Visto em Homorrealidade
Por *Fred Burle - Para o Pipoca Moderna
BERLIM A procura acima de qualquer expectativas por ingressos do francês “Tomboy”, filme que abriu na quinta-feira (10/2) a Mostra Panorama do Festival de Berlim (a mesma que exibirá “Tropa de Elite 2″), fez com que os organizadores rapidamente se organizassem e promovessem três sessões simultâneas, a fim de que ninguém ficasse de fora. Com todo o aglomeramento e a apreensão pela incerteza do público de entrar para as salas, as sessões começaram com atraso, mas aqueles que persistiram sairam satisfeitos.
“Tomboy” é a denominação dada para meninas que gostam de agir como meninos. No filme da diretora Céline Sciamma (“Lírios D’Água”), Laure é uma menina de dez anos, que muda de casa constantemente, em decorrência do trabalho do pai. Ao ir para uma nova residência ainda nas férias, ela faz amizade com uma grande turma de garotos da vizinhança, mas se apresenta como Mikael. Isso faz com que ela se aproxime de Lisa, a única menina do grupo. Não demora até que Lisa caia em amores por “Mikael”, mas as férias estão para acabar e Laure não sabe como fará para manter seu segredo.
A problemática bem costurada é construída por cada uma das cenas que, como a própria diretora explicou ao término da sessão, são longas justamente para que ela pudesse ir fundo e nada ficasse sem sentido. Tudo tem um porquê e em momento algum cai-se no lugar-comum ou no drama pesado.
O comportamento de Laure é muito bem explorado e interpretado pela atriz Zoé Heran. Ela gosta de se vestir e brincar como menino, mas também não acha ruim quando a amiga a maqueia ou quando a irmã mais nova, Jeanne, pede para que ela toque teclado para criar uma trilha para um balé.
Nesta relação com a irmã mais nova reside o sentimento mais puro e lindo que o filme poderia transmitir. Além de serem cúmplices, a mais nova tem um leque de tiradas infantis infindável e deixa o sorriso constantemente no rosto do público. Uma revelação chamada Malonn Lévana.
Mas a relação de Laure com a irmã é também muito clara: a mais velha protege a mais nova como se fosse um menino – partindo para a briga com os amiguinhos, se necessário – , assim como a mais nova tem verdadeira idolatria pela mais velha. Só os pais é que parecem não enxergar aquilo.
Muito próximo do argentino “El Último Verano de la Boyita” (ainda inédito no Brasil), “Tomboy” é cativante e trata com leveza de um assunto muito sério. Faz pensar, sem precisar fazer sofrer. Apesar de ter um final talvez excessivamente aberto – algo que Céline confirmou ter sido pensado como tal –, não deixa a impressão de obra incompleta.
*Fred Burle é mineiro-brasiliense e atualmente reside em Berlim. É produtor audiovisual, tem no currículo 5 curtas-metragens concluídos, além de um documentário em longa-metragem - ainda em fase de finalização. Viciado na sétima arte, publica suas críticas e outros artigos, notícias e curtas-metragens no blog Fred Burle no Cinema
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