Associações brasileiras de defesa dos direitos homossexuais receberam com surpresa a declaração do ministro do Vaticano para a Família, monsenhor Vincenzo Paglia, que num encontro com a imprensa se mostrou a favor do reconhecimento dos direitos civis de casais não unidos legalmente - incluindo os homossexuais - para impedir injustiças e discriminações. As palavras de Paglia também repercutiram na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que respaldou a posição de não discriminação pelo Estado por orientação sexual, mas reiterou o conceito católico de casamento entre homem e mulher.
- Existe hoje uma conjuntura de conquistas para nossa comunidade, com avanços em países como Espanha, França e Inglaterra. Isso possivelmente leva a Igreja a se posicionar de modo menos radical. O Vaticano não pode ficar isolado - disse ao GLOBO Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Apesar de inesperada, afirma, a declaração é positiva, pois não se ampara em questões religiosas.
- Só o fato de desvincular os argumentos morais e religiosos dos de direitos já é bom. Não queremos que a Igreja vá contra seus dogmas, mas que respeite nossos direitos - pondera Magno.
Isso não significa, porém, o reconhecimento pela Igreja da união homossexual. Para o antropólogo e ex-frade dominicano Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, nunca houve um Papa tão homofóbico quanto Bento XVI.
- O Papa já falou que o “homossexualismo”, termo pejorativo associado a uma doença, é essencialmente ruim. Lamento que ele insista na intolerância, condenando a homossexualidade, o divórcio, o uso do preservativo e da pílula anticoncepcional, em contradição com a opinião da maioria dos católicos e até do baixo clero - diz Mott.
Ele afirma que a declaração de Paglia parece um “deslize, um descuido” da Igreja, mas pode levar o alto clero a uma maior aceitação e mais esclarecimento em relação à homossexualidade.
- Pode abrir caminhos para que no futuro a cúpula da hierarquia católica acompanhe a nova teologia moral de outras igrejas protestantes históricas. Só que é algo que não imagino acontecendo já nesse pontificado - completa.
Apesar de inesperada, afirma, a declaração é positiva, pois não se ampara em questões religiosas.
- Só o fato de desvincular os argumentos morais e religiosos dos de direitos já é bom. Não queremos que a Igreja vá contra seus dogmas, mas que respeite nossos direitos - pondera Magno.
Isso não significa, porém, o reconhecimento pela Igreja da união homossexual. Para o antropólogo e ex-frade dominicano Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, nunca houve um Papa tão homofóbico quanto Bento XVI.
- O Papa já falou que o “homossexualismo”, termo pejorativo associado a uma doença, é essencialmente ruim. Lamento que ele insista na intolerância, condenando a homossexualidade, o divórcio, o uso do preservativo e da pílula anticoncepcional, em contradição com a opinião da maioria dos católicos e até do baixo clero - diz Mott.
Ele afirma que a declaração de Paglia parece um “deslize, um descuido” da Igreja, mas pode levar o alto clero a uma maior aceitação e mais esclarecimento em relação à homossexualidade.
- Pode abrir caminhos para que no futuro a cúpula da hierarquia católica acompanhe a nova teologia moral de outras igrejas protestantes históricas. Só que é algo que não imagino acontecendo já nesse pontificado - completa.
Mudança, mas não de conceito
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno Assis, disse não ter acompanhado as declarações de Paglia, mas afirmou que o religioso está certo ao defender que o Estado impeça injustiças ou discriminações porque a “Igreja não deve discriminar ninguém por nenhum motivo de crença, cor ou opção sexual”. Dom Raymundo, no entanto, frisou que para a Igreja Católica o casamento é sempre entre um homem e uma mulher.
- O monsenhor falou na resolução de questões patrimoniais e não matrimoniais. Não discriminar é uma coisa: nenhum homossexual é excluído da Igreja, todos devem ter os mesmos direitos perante a lei, mas união matrimonial, para nós católicos, é entre um homem e uma mulher - afirmou.
Dom Raymundo disse, ainda, que a CNBB não analisou o projeto de lei que criminaliza a homofobia (PLC 122), em tramitação no Congresso, mas afirmou que a Igreja preza pelo “respeito a todos os seres humanos”.
Ele opinou também sobre as ações favoráveis aos direitos gays defendidas pelo presidente dos EUA, Barack Obama - o que para muitos ativistas pode representar avanços no setor nos próximos anos - e ressaltou que “os gays precisam ser tratados com respeito por sua opção”.
No Vaticano, Paglia admitiu que ficou surpreso com a repercussão de suas declarações e ao ver que alguns veículos de imprensa publicaram que ele apoiava os casais homossexuais. Numa entrevista à Rádio do Vaticano, ele tentou se explicar e disse que era necessário “verificar nos ordenamentos jurídicos existentes a possibilidade de utilizar normas jurídicas que tutelem os direitos individuais”, em respaldo a um papel que caberia ao Estado. No tocante à Igreja, porém, ele reiterou sua defesa do conceito heterossexual do casamento.
Para a deputada italiana Anna Paola Concia, do Partido Democrata, o Vaticano está “encurralado”.
- As hierarquias eclesiásticas parecem obcecadas com a homossexualidade. Nos últimos anos elas têm falado pérolas sobre o assunto. Hoje, porém, estamos diante de um cenário em que muita coisa mudou. A centro-esquerda está historicamente na vanguarda da defesa dos direitos dos gays, não podemos continuar com esta situação, fruto de uma visão obscurantista — afirmou.
- O monsenhor falou na resolução de questões patrimoniais e não matrimoniais. Não discriminar é uma coisa: nenhum homossexual é excluído da Igreja, todos devem ter os mesmos direitos perante a lei, mas união matrimonial, para nós católicos, é entre um homem e uma mulher - afirmou.
Dom Raymundo disse, ainda, que a CNBB não analisou o projeto de lei que criminaliza a homofobia (PLC 122), em tramitação no Congresso, mas afirmou que a Igreja preza pelo “respeito a todos os seres humanos”.
Ele opinou também sobre as ações favoráveis aos direitos gays defendidas pelo presidente dos EUA, Barack Obama - o que para muitos ativistas pode representar avanços no setor nos próximos anos - e ressaltou que “os gays precisam ser tratados com respeito por sua opção”.
No Vaticano, Paglia admitiu que ficou surpreso com a repercussão de suas declarações e ao ver que alguns veículos de imprensa publicaram que ele apoiava os casais homossexuais. Numa entrevista à Rádio do Vaticano, ele tentou se explicar e disse que era necessário “verificar nos ordenamentos jurídicos existentes a possibilidade de utilizar normas jurídicas que tutelem os direitos individuais”, em respaldo a um papel que caberia ao Estado. No tocante à Igreja, porém, ele reiterou sua defesa do conceito heterossexual do casamento.
Para a deputada italiana Anna Paola Concia, do Partido Democrata, o Vaticano está “encurralado”.
- As hierarquias eclesiásticas parecem obcecadas com a homossexualidade. Nos últimos anos elas têm falado pérolas sobre o assunto. Hoje, porém, estamos diante de um cenário em que muita coisa mudou. A centro-esquerda está historicamente na vanguarda da defesa dos direitos dos gays, não podemos continuar com esta situação, fruto de uma visão obscurantista — afirmou.
Elisa Martins
Mariana Timóteo da costa
(DO GLOBO.COM)
Mariana Timóteo da costa
(DO GLOBO.COM)
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