quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Primeiro travesti eleito no país é tema de documentário



Publicado no G1
 
Kátia Tapety foi a vereadora mais votada de Colônia (PI) por três vezes. Quando criança, os pais a impediram de sair de casa e frequentar escola.
 
Não deixa de ser curioso o fato de que o primeiro travesti eleito para um cargo político no Brasil nasceu, foi criado e fez carreira em Colônia, cidadezinha com cerca de oito mil habitantes no sertão piauiense. Kátia Tapety, que nasceu José Nogueira Tapety Sobrinho, é a protagonista do documentário “Kátia”, que foi exibido nessa quarta-feira (19) na mostra competitiva do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
 
Integrante de uma tradicional família de políticos do Piauí, Kátia foi proibida de sair de casa durante a infância e parte da adolescência. Ela foi a única de nove filhos que não recebeu educação formal e apanhava até quando ia com a mãe para a igreja. Para a diretora Karla Holanda, esse período de reclusão foi fundamental na formação de Kátia.
 
“Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o respeito, a dignidade que ela conquistou, especialmente vindo de um lugar inesperado, o sertão do Piauí. O mérito todo está na Kátia, no jeito que ela se faz respeitar. Acho que ela conseguiu criar estratégias para sobreviver”, opina Karla.
 
Com a morte do pai, Kátia se libertou. Ela casou e adotou três filhos, um dos quais morreu há cerca de quatro anos. Em 1992, se candidatou pela primeira vez ao cargo de vereadora. Não só ganhou, como foi a mais bem votada de Colônia do Piauí – feito que repetiu nas eleições de 1996 e de 2000.
 
Piauiense radicada no Rio de Janeiro, a diretora conheceu Kátia em 2008, por meio de notícias em jornais e na internet, e diz que logo se interessou pela personagem. De acordo com Karla, o objetivo do filme nunca foi fazer uma biografia de Kátia, mas sim mostrar a força da mulher que antes era homem.
 
“No início, o que me chamou a atenção foi isso dela ser a primeira travesti eleita para um cargo político, mas isso logo ficou em segundo plano. E percebi que me chamava muito a atenção a forma como ela se fez respeitar (...) Ela tem uma riqueza muito grande e lida com o mundo de uma forma muito dela, muito prática, sem rodeios.”
 
A diretora afirma que, apesar do estigma de ser a primeira travesti com carreira política do país, Kátia nunca ficou reconhecida por defender apenas projetos voltados para o público LGBT.
 
Atualmente, Kátia está separada do companheiro com quem viveu por quase 20 anos. Ela, que também já foi vice-prefeita de Colônia do Piauí, não concorre a nenhum cargo nas eleições deste ano, mas acompanhou a sessão dessa quarta no Festival de Brasília.
 
“A política para a Kátia não precisa nem de cargo, ela faz política o tempo inteiro. Uma política mais assistencialista, porque as necessidades [ da população de Colônia do Piauí] são tão elementares que podem ser resolvidas com um tipo de ajuda mais simples, como levar uma pessoa ao médico, agendar uma consulta, ajudar um casal a tirar a certidão de nascimento do filho ou questões de transporte, que é muito ruim, falho e caro para população que vive da agricultura no sertão.”

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