Por Rafael Lemos para o site da Revista Veja
A pergunta foi incluída pela primeira vez no questionário, e é um avanço na direção do reconhecimento das uniões homoafetivas. O maior número de casais está no Sudeste
O Censo 2010 trouxe à luz das estatísticas, pela primeira vez, os casais gays que dividem o mesmo teto no Brasil. Em todo o país, 60.002 pessoas declararam ter cônjuge do mesmo sexo. É pouco, mas é muito. Num país onde grassa o preconceito, certamente houve muita gente que não quis responder, o que torna o número pouco confiável. Mas a inclusão da pergunta no questionário de um órgão do governo mostra que finalmente as uniões homoafetivas tão presentes na realidade finalmente deixam de ser ignoradas pela estatística.
O levantamento inédito é fruto do novo pacote de perguntas inaugurado nesta edição da pesquisa. Os dois modelos de questionário aplicados pelos recenseadores trouxeram a seguinte pergunta: "Qual o grau de parentesco ou de convivência com o responsável pelo domicílio?". Entre as 20 opções de resposta, havia o item "cônjuge ou companheiro(a) do mesmo sexo".
O empresário e apresentador de TV Bruno Chateaubriand, que vive há quase 13 anos com o companheiro André Ramos, comemora o avanço do censo no reconhecimento dos casais homossexuais, mas também acredita que o resultado deve ter ficado bem abaixo dos números reais.
“Acho importante a iniciativa do IBGE, assim como a do Imposto de Renda ter passado a aceitar o cônjuge do mesmo sexo como dependente. Mas, como vivemos numa sociedade muito preconceituosa, acredito que muita gente não tenha respondido corretamente. Talvez haja uma abertura maior em São Paulo e no Rio, onde existem paradas gays enormes. Só na Avenida Paulista se reúnem mais de um milhão de pessoas. Já no Nordeste, por exemplo, ainda é uma questão complicada. O Brasil é um dos países em que mais se mata por homofobia”, pondera Chateaubriand.
Os números do IBGE confirmam. O Sudeste concentra mais da metade do total de cônjuges do mesmo sexo: 32.202 casais. Ficam na região os três estados que apresentaram o maior número de casais. São Paulo aparece em primeiro lugar, com 16.872 notificações. Em seguida, vem o Rio de Janeiro, com 10.170. Minas Gerais ficou em terceiro lugar, com 4.098 casais. Enquanto isso, em todo o Nordeste, apenas 12.196 pessoas informaram viver uma união homoafetiva.
Bruno Chateaubriand, que não recebeu a visita dos recenseadores, conta que um amigo, promoter de festas em Curitiba, passou por constrangimento ao responder a pergunta. Ao ouvi-lo se referir ao companheiro como “meu marido”, o entrevistador não teria segurado o riso.
“Me pergunto qual o preparo dos recenseadores para lidar com essas respostas. Como garantir que não vai haver aquele risinho depois da resposta? Eles foram treinados para isso?”, questiona Chateaubriand.
A expectativa das lideranças do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) é que o reconhecimento da existência de casais do mesmo sexo ajude a categoria a conquistar antigas reivindicações, como a união civil e todos os benefícios decorrentes dela.
"Já é um grande avanço o IBGE ter incluído esse item. É simbólico pelo fato de o estado brasileiro reconhecer pela primeira vez essas novas constituições familiares. Este pode ser um primeiro passo para o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. No entanto, acredito que, devido à discriminação que existe, muitas pessoas não tenham se sentido confortáveis para responder corretamente a pergunta", avalia o ativista Márcio Marins, da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros).
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