Dois fatos recentes em países que pertenceram ao chamado bloco comunista chamam a atenção. Primeiro: O presidente de Belarus Alexander Lukashenko disse: “Melhor ser um ditador a ser gay”, em resposta ao ministro do Exterior alemão, Guido Westerwelle, homossexual assumido, que disse Belarus ser a última ditadura da Europa. Segundo: Políticos de São Petersburgo, na Rússia, aprovaram uma lei que “ações públicas dirigidas à propaganda da sodomia, lesbianismo, bissexualidade e transgeneridade entre menores” serão punidas com multas.
Apesar de situações distintas, elas têm o mesmo fundo, a homofobia construída por muitas décadas de comunismo, muito mais do que a alardeava pressão da Igreja Ortodoxa ou de um suposto ultranacionalismo (não que esses elementos também não colaborem para a homofobia desses países que um dia foram comunistas). Os países que pertenciam à antiga União Soviética tinham uma política que os homossexuais significavam a decadência do capitalismo e era um mal a ser combatido.
Claro que nem sempre foi assim, logo após a Revolução comunista, Lênin aboliu a lei anti-sodomia, em 1918. Os anos 1920 foram de certa tolerância, segundo relatos, mais para lésbicas do que para travestis e homens gays. Até que, em 7 de março de 1934, uma lei fixava pena de no mínimo três anos de prisão por relações sexuais entre homens.
E esse modelo – que prega que os gays são agentes do capitalismo para a corrupção e subversão dos valores do proletariado – foi o seguido por todos os países que aderiram ao regime comunista. Diferente dos nazistas que tiveram bem documentados os presos com o triângulo rosa (símbolo dos homossexuais nos campos de concentração), essa mesma perspectiva não se tem em relação aos gays que foram enviados aos gulags da Sibéria e aos porões de Pequim, Havana e outros centros comunistas. Pouco se sabe sobre eles. Eles são quase que apagados da História de seus países. São jogados à invisibilidade.
Em Cuba, graças aos livros e depoimentos de Reinaldo Arenas, pode-se tentar construir a cena que milhares de homossexuais foram presos pelo simples fato de não serem héteros. Mas ele aponta para um outro ponto importante: Os homossexuais que sobreviveram nos regimes comunistas sem serem presos. O escritor Lezama Lima e o músico Bola de Nieve são dois exemplos. Este último, Arenas ironizou: “Ele era o cocheiro da revolução”.
Homossexuais, Lezama e Bola poderiam não ser incomodados enquanto sua sexualidade permanecesse invisível. Mas mesmo assim, isto teria um preço. Lembro que em 1994, em uma viagem para Cuba, procurei durante dias pelas ruas de Havana o romance “Paradiso” de Lezama Lima e álbuns de Bola de Nieve em vão. Achei dois LPS em péssimo estado do cantor genial, muito diferente dos inúmeros livros e discos de Nicolás Guillén, mais adequado ao sistema de Castro na época. Isto quer dizer, a invisibilidade dos dois continuou presente mesmo depois deles mortos e reconhecidamente patrimônios da cultura cubana.
Mesmo com o mea-culpa de Fidel Castro em 2010, responsabilizando pela perseguição aos homossexuais nos anos 1960 e 70, mesmo com a China descriminalização a homossexualidade em 1997, o traço homofóbico dos regimes comunistas não se apagará de uma hora pra outra, por isso, é mais importante que nunca que os gays se tornem cada vez mais visíveis, aliás não só nesses países como também no nosso.
***
Em relação à Rússia e a lei de São Petersburgo, a organização All Out fez um vídeo, pedindo para mandar mensagens para o dirigente da cidade pedindo para que essa lei não seja implementada. Assista (legendas em português precisam ser ativadas):
Nenhum comentário:
Postar um comentário