quarta-feira, 7 de março de 2012

"Racismo, homofobia e o marketing da discriminação", por Marcelo Bechler


Artigo do Blog do Bechler
Publicado no site da Rádio Globo

Na segunda-feira, o italiano Frederico Macheda foi multado em 15 mil libras (41 mil reais) por ofensa homofóbica a um seguidor no twitter. O jogador se defende dizendo que escreveu “gay” querendo dizer “guy” na rede. No mesmo dia, a Lazio (com a mancha facista e xenofóbica presentes em sua história) foi advertida e terá de pagar 45 mil reais por ofensas de sua torcida ao brasileiro Juan, durante o clássico de domingo contra a Roma.

Em conflito com a FIFA, os ingleses suspenderam Luís Suarez, do Liverpool, por oito partidas depois de ofensas a Patrice Evra. A punição exemplar veio após as declarações de Joseph Blatter de que “não existe racismo no futebol e as diferenças devem ser resolvidas com um aperto de mão”. Ao tirar o uruguaio de um quarto do campeonato, a FA mostra que é diferente do órgão máximo de futebol e que a não tolerância tende a intimidar atitudes semelhantes.

A Federação Inglesa acerta ao não ser branda com Suarez ou Macheda. Branda como foi a Federação Italiana, em mais um caso envolvendo torcedores da Lazio. Por outro lado, a FA faz da discriminação seu marketing. Jonh Terry perdeu o posto de capitão da Inglaterra por estar envolvido em um caso de racismo com Anton Ferdinand. Junto com a braçadeira de Terry foi-se o técnico Fabio Capello. O caso foi em outubro do ano passado, mas Terry só será julgado em julho, após a Euro. Afinal, combater o racismo pode ser importante, mas ter o zagueiro titular na competição europeia é mais.

No Brasil, o Vôlei Futuro, levou para o lado desportivo a discussão do caso Michael (pleiteando a perda do mando de campo do clube mineiro), mostrou solidariedade ao atacante Wallace, do próprio Cruzeiro, no último sábado. A equipe paulista entrou em quadra com camisas negras e com o nome de Wallace nas costas – o jogador havia sido vítima de racismo por parte de uma torcedora minastenista. O Vôlei Futuro parece tentar mostrar que é melhor que os demais. Quando é o seu calo que aperta, mostra que quer vantagens.

O combate à discriminação é sempre benvindo. As punições severas, mais ainda. Prefiro a forma da federação inglesa punir, do que a postura da italiana. Se o idiota for racista, pensará duas vezes para se manifestar. O sentimento preconceituoso pode não deixar de existir naquela pessoa, mas não ser propagado evita a propaganda e o modismo.

Sou a favor da punição pesada. Mas a FA querer simplesmente parecer “mais limpa” que a FIFA e o Vôlei Futuro ser “o protetor de minorias”, mas não olharem para as próprias contradições, não me convencem e nem me comovem.

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